Sinceramente, tenho medo de morrer. Não pelo que vou encontrar depois, mas por causa do instante da morte. Não me parece que isso seja censurável, visto que o próprio Jesus temeu o momento de sua morte (cf. Jo 12, 27).
É menos provável que eu tenha de passar por sofrimento semelhante ao de Cristo, mas a morte é a separação entre o corpo e a alma. É isso deve doer!
Mas o medo pode ser uma espécie de fascínio. Quem tem medo, no fundo sente-se atraído pelo objeto temido. No meu caso, trata-se de um desejo de tocar o desconhecido e de compreender aquilo que ainda não sei plenamente.
Aliás, demorei a entender as coisas relativas aos novíssimos. Pensava que "mansão dos mortos" era uma casa mal assombrada. "Juízo final", para mim, eram os instantes últimos de lucidez antes da caducidade. Cheguei a pensar que as pessoas banguelas não iam para o Inferno, pois Jesus insinua que lá "haverá choro e ranger de dentes" (cf. Mt 25, 30b - grifo meu). Espero que não precise de dentistas por lá.
Minhas preocupações escatológicas diminuíram quando descobri que o próprio Jesus morreu e foi para o inferno. Quem diria? Mas é isso mesmo! E para comprovar que não estou dizendo nenhuma heresia, vou recorrer ao Catecismo da Igreja Católica: "O Símbolo dos Apóstolos confessa em um mesmo artigo de fé a descida de Cristo aos Infernos e a sua Ressurreição dos mortos no terceiro dia" (n. 631 - grifo meu).
A Escritura denomina Inferno, Sheol ou Hades, a Morada dos Mortos para a qual Cristo morto desceu. Lá se encontravam todos os mortos, maus ou justos. Todos estavam em estado de privação da visão de Deus, o que não significa que a sorte deles fosse idêntica (cf. n. 633). Os justos estavam à espera do Redentor, pois a salvação ainda não tinha se realizado.
Jesus desceu aos Infernos não para libertar os condenados, nem para destruir o próprio Inferno. Ele foi libertar os justos que haviam precedido. Esta foi, portando, a fase última da missão messiânica de Jesus (cf. ns. 633-634). No dizer de uma antiga homilia para o Sábado Santo: "Ele vai procurar Adão, nosso primeiro Pai, como uma ovelha perdida. Quer ir visitar todos os que se assentaram nas trevas e à sombra da morte. Vai libertar de suas dores aqueles dos quais é filho e para os quais é Deus" (n. 635).
Portanto, a descida de Jesus aos Infernos é um dogma de fé, que todo católico reza no Credo, quando diz: "Desceu à mansão dos mortos". Sua constatação reforça a fé na misericórdia de Deus. Para salvar, Jesus chegou até o Inferno, "para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos” (Fl 2,10).
É no nome de Jesus que se tem a vida em abundância. Nele, a própria morte se transfigura: em vez de instante último, torna-se passagem. Por isso, sou obrigado a concluir que o meu temor diante da morte é infundado. Devo aguardá-la na certeza de que ela me levará à felicidade eterna. Mesmo que doa...
Artigo de Ronaldo José de Sousa, consagrado da Comunidade Remidos no Senhor, retirado da Revista Renovação, edição nº 37 Março/abril 2006 e imagem do Portal RCCBRASIL
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