sábado, 2 de março de 2013

Renúncia do Papa: Sinal de Deus

Por D. Pedro Brito Guimarães*


Dom Pedro Brito Guimarães
“Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino” (Bento XVI). Chegou o dia e a hora marcados para a renúncia do papa Bento XVI, que deixará a cátedra de Pedro vacante até que os cardeais elejam um novo papa. Aquilo que era mero rumor ou especulação se concretiza; aquilo que era promessa se torna realidade. O dia é hoje, a hora é agora!


Pegos todos de surpresa, esta notícia caiu como um raio, em pleno verão, no coração da Igreja e do mundo. Fui um golpe muito forte e profundo que doeu demais. Desde 1415, com a renúncia do papa Gregório XII, nunca mais um papa havia renunciado. Não estávamos acostumados e nem preparados para tanta provação e provocação. Isto explica a repercussão, a especulação e a manipulação do fato acorrido. Trata-se de um precedente histórico novo e emblemático que precisa ser lido sem isenção, com profundidade, serenidade e seriedade. Felizmente, com o passar do tempo aos poucos a dor vai sendo suavizada, o clima e os ânimos serenizados.


Deus marca a história do seu povo com muitos sinais e deixa seus recados e seus rastros em cada canto da história e em cada ângulo da nossa vida, com os quais esconde e revela uma fonte muito profunda, muitas vezes submersa em pedra e areia. Nós é que, às vezes, não sabemos decifrá-los e decodificá-los. O profeta Zacarias revelou uma profecia que se aplica bem a este momento: “ó espada, levanta-te contra o meu Pastor e contra o homem, meu companheiro (...) Fira o pastor, que as ovelhas se dispersarão” (Zc 13,7).


Aos olhos do mundo a renúncia do papa é um fato inédito que vende e dá lucro; é um terreno fértil para semear cizânia no campo onde foi semeado o trigo da Palavra de Deus. Para estas mídias, a Igreja está reproduzindo aquilo que a sociedade tem de pior: mentira, intriga, fofoca, calúnia, corrupção e acusação. Com isto não nos permitem fazer uma leitura do fato e um discernimento livre, tranquilo e sereno. No entanto, o fato é um convite para a serenidade e para termos cuidado de não divulgar e acreditar naquilo que não corresponde à realidade.


Aos olhos da fé, a renúncia do papa Bento XVI é um sinal de Deus: um ato de coragem e de grandeza da sua alma; um ato de desprendimento, de responsabilidade, de coerência pessoal, um exemplo a ser seguido quando não tivermos mais forças, condições e capacidades para gerenciar uma obra humana ou divina. O papa, com este seu gesto, demonstra, ao mundo, para além de uma atitude de fraqueza e resignação, ser um homem digno, corajoso, humilde e abnegado ao poder. Querendo o bem da Igreja, renuncia para dar espaço a outro, com sangue novo, para conduzir a barca de Pedro. Seu sofrimento que pode parecer sinal de esgotamento, de fraqueza e de doença, pode ser lido como um sinal de Deus para a renovação da sua Igreja num tempo complexo como o nosso.



Portanto, a renúncia do papa é um sinal de Deus e um ato profético da Igreja. Cargo na Igreja não é honra e nem é poder no sentido de posse e de apego. O papa quando sentiu de perto suas limitações renunciou ao cargo. Quantos ficam apegados ao poder, mesmo estando doente e impossibilitado de exercê-lo plenamente? Ele, ao contrário, com a consciência tranquila de quem cumpriu seu dever diante de Deus, do mundo e da Igreja, renuncia, dizendo: eu renuncio; o cargo não é fundamental pra mim, eu cumpri a minha missão até quando eu podia cumprir. O apego ao poder, as honras, a glória do cargo, entrego a quem conduzir melhor a igreja no momento de hoje". Se ficará na história como o papa que renunciou, ficará também como exemplo de coerência para todos.


Sem mais comentários. Reverência. Silêncio. Oração. Respeito. Obediência... pelo bem da Igreja.


*Dom Pedro é arcebispo metropolitano de Palmas/TO, é piauiense e já foi bispo diocesano de São Raimundo Nonato.


Fonte: Portal da CNBB Nacional

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